terça-feira, maio 10, 2011

Espontaneidade, cadê você?

Ando meio cansada dessa mera formalidade, dessa opinião formada sobre como devemos agir, falar, ser e ouvir. Essa mania de estar em cima do salto o tempo todo, com a gravata apertada e o peito estufado, essa necessidade de saber o que fazer, de ter pra onde ir.
O conceito fajuto de que segunda-feira é deprimente, terça um dia ocupadissimo, quarta dia de fazer compras, quinta é preciso passar no salão de beleza, sexta é só a espera pelo sábado, sabádo o medo da segunda e domingo a calmaria que chateia. É? Mas eaí, por que assim todo dia? Toda semana? Todo mês?
Essa correria atrás de dinheiro, carro bom e barriga cheia. Esse medo de parecer atrasado diante de alguém que sabe mais. Essa pressa. Essa necessidade de parecer alguém legal e descolado.
Me admira o costume, a monotonia, que no fim, nós mesmos criamos, pra nos sentirmos mais úteis, mais ágeis, mais espertos e experientes diante do que os outros pensam.
Essa gigante preocupação com a tinta do cabelo, o anseio de saber o que estão falando do nosso sapato novo, esse medo da gravata torta, do dente torto, da maquiagem borrada.
E assim a gente vai esquecendo do tempinho de discutir sobre a temperatura com o porteiro do prédio, de chorar assistindo um romance enquanto come pipoca com um pijama de bolinhas. A gente vai deixando pra trás o prazer de lambuzar a cara de chocolate e ficar algum tempo com o dente sujo. Essa vontade de estar correto o tempo todo, faz a gente começar a achar brega chamar o marido do apelido antigo, de brincar de aviãozinho com o filho até ele acreditar que comer verdura é gostoso.
A gente esquece na estante o sorriso, esconde na gaveta a espontaneidade e veste a máscara de pessoa correta antes de sair de casa, claro, não podem pensar mal de nós.
E eu me pego pensando aonde isso vai nos levar. Esse bando de gente fantasiado todo dia.
Maquiagem impecável, corrente de ouro, terno Prada, cara fechada e coração vazio.
E a gente vai se permitindo esquecer de quem a gente é, vivendo o que querem que sejamos, mas é importante esclarecer que a essência ninguém muda, o que somos fica sempre lá, guardadinho.
Pode subir no salto, mas vai sentir saudade da pantufa
e sinceramente eu espero que perceba isso antes de teu coração esfriar:
Ninguém sabe o que fazer o tempo todo, ninguém acerta todo dia
Ninguém vive sem viver