terça-feira, setembro 20, 2011

Não pare de fazer manutenção

Casas abandonadas sempre me fizeram atravessar a rua, ter arrepio e apressar o passo
sempre perco o fôlego ao imaginar a solidão que reina ali dentro
o quanto as paredes devem sentir falta de quadros enfeitando-as
o ranger das portas, a correria nas escadas, a janela aberta pro sol entrar, o varal cheio de roupas.
E paro para pensar no motivo que alguém teve para bani-la de sua vida
por que deixaram-na ali, sozinha... aquilo que um dia foi um lar
por que a condenaram a ser solitária?
Se tantos momentos aquelas paredes contemplaram, se tantos pés pisotearam aquele chão...
Bem, minha agonia multiplica-se ao lembrar que muitas pessoas tornam-se casas abandonadas,
pessoas que podem até pertencer a alguém, mas nada acontece, ninguém as visita, nenhuma janela é aberta, o sol não entra, não há quadros, nem sinal de crianças correndo.
Como se por dívida, vingança, cobrança, desesperança ou até mesmo falta de necessidade, alguém tivesse colocado um cadeado em sua porta e a entregado a solidão
como se algo a tivesse proibido de receber visita, relacionar-se, ser cúmplice de dias bons e ruins
como se algo a tivesse deixado presa, sujeita a enfrentar o vento, a chuva, a ferrugem e a teia de aranha sozinha
até as pessoas começarem a atravessar a rua, ter arrepio e apressar o passo ao avistá-la
ninguém se aproxima, ninguém demonstra interesse, ninguém elogia, ninguém, ninguém, ninguém...
até que um dia percebe-se que a solução é destrui-la e construir de novo.
Faltou perceberem, que só precisava de manutenção...
Adeus abandono.
Adeus solidão.

sexta-feira, julho 15, 2011

Saudade, falta, lembrança, história

Saudade é estar vazio de si, como se algo que partiu tenha levado junto o que te era importante
Saudade é chorar, gargalhar, tirar fotos antigas do armário, reler cartas e evitar ligar o rádio, por medo de tocar a musica que lhe lembra a tal pessoa, o tal momento, a tal amizade, o tal verão, a tal casa, o tal amor que poderia ter dado certo
Ter saudade é fechar os olhos e chorar, é não dormir, é não sentir fome
Ter saudade é ter desespero, urgência. Vontade de abandonar tudo e correr ao encontro do que te faz ficar assim, com saudade
E pós saudade, a tal falta
E sentir falta, é como se você estivesse se conformando com a ausência
Sentir falta é como permitir que o que passou, não se repita
E não se engane: Sente-se falta também do que nunca aconteceu
Sentir falta é fazer hora extra, tentar dormir mais cedo, marcar dentista em horário de ficar em casa descansando. Sentir falta é fugir
Fugir então, da tal lembrança
Lembrança do olhar intenso do namorado que se foi, de você e seus amigos cantando dentro do onibus escolar, da mãe gritando "O almoço tá pronto gente"
Ter lembranças é observar um casal se beijando, chorar comendo pipoca doce, rir ao encontrar um sapato vermelho que você usou no aniversário de dezesseis anos
Ter lembranças é sentir que tudo te leva ao momento em que a sua saudade está
Ter lembranças é ter uma história, uma tal história
História armazenada mais no coração do que na mente
Por que tenho certeza, cada vez que uma história de saudade for contada, um coração irá querer pular, retroceder, gritar, correr. Como se o presente não lhe pertencesse, e sim a sua história fosse a sua vida
Por que conforme os dias podem ser chamados de meses e os meses de anos, a gente muda
o coração muda, os principios mudam, os sonhos de criança dão lugar a sonhos maduros, o medo das consequencias intensifica-se e a gente se torna gente de verdade... ou de mentira
Vivendo uma vida que não é nossa, conformando-se com a perda de quem a gente afastou, permitindo-se sentir falta de correr na chuva, como se isso não fosse mais possivel.
E no fim da noite vai ter sempre uma pontinha de saudade, fazendo a gente sentir falta enquanto lembra que o que era bom, agora é só história.
E a gente adormece pensando se a saudade que ainda resta é do que passou ou de pedaços nossos que ficaram para trás.



terça-feira, maio 10, 2011

Espontaneidade, cadê você?

Ando meio cansada dessa mera formalidade, dessa opinião formada sobre como devemos agir, falar, ser e ouvir. Essa mania de estar em cima do salto o tempo todo, com a gravata apertada e o peito estufado, essa necessidade de saber o que fazer, de ter pra onde ir.
O conceito fajuto de que segunda-feira é deprimente, terça um dia ocupadissimo, quarta dia de fazer compras, quinta é preciso passar no salão de beleza, sexta é só a espera pelo sábado, sabádo o medo da segunda e domingo a calmaria que chateia. É? Mas eaí, por que assim todo dia? Toda semana? Todo mês?
Essa correria atrás de dinheiro, carro bom e barriga cheia. Esse medo de parecer atrasado diante de alguém que sabe mais. Essa pressa. Essa necessidade de parecer alguém legal e descolado.
Me admira o costume, a monotonia, que no fim, nós mesmos criamos, pra nos sentirmos mais úteis, mais ágeis, mais espertos e experientes diante do que os outros pensam.
Essa gigante preocupação com a tinta do cabelo, o anseio de saber o que estão falando do nosso sapato novo, esse medo da gravata torta, do dente torto, da maquiagem borrada.
E assim a gente vai esquecendo do tempinho de discutir sobre a temperatura com o porteiro do prédio, de chorar assistindo um romance enquanto come pipoca com um pijama de bolinhas. A gente vai deixando pra trás o prazer de lambuzar a cara de chocolate e ficar algum tempo com o dente sujo. Essa vontade de estar correto o tempo todo, faz a gente começar a achar brega chamar o marido do apelido antigo, de brincar de aviãozinho com o filho até ele acreditar que comer verdura é gostoso.
A gente esquece na estante o sorriso, esconde na gaveta a espontaneidade e veste a máscara de pessoa correta antes de sair de casa, claro, não podem pensar mal de nós.
E eu me pego pensando aonde isso vai nos levar. Esse bando de gente fantasiado todo dia.
Maquiagem impecável, corrente de ouro, terno Prada, cara fechada e coração vazio.
E a gente vai se permitindo esquecer de quem a gente é, vivendo o que querem que sejamos, mas é importante esclarecer que a essência ninguém muda, o que somos fica sempre lá, guardadinho.
Pode subir no salto, mas vai sentir saudade da pantufa
e sinceramente eu espero que perceba isso antes de teu coração esfriar:
Ninguém sabe o que fazer o tempo todo, ninguém acerta todo dia
Ninguém vive sem viver

terça-feira, março 22, 2011

O mais ou menos não basta

Ou ama ou odeia, ou vai ou fica, ou chora ou sorri
Mas se ama, te atira, mergulha fundo nessa, não duvide, não ame pela metade
Mas se odeia, te digo que ame. Teu caminho será cheio de luz
e se for partir, parta mesmo, não fique no meio do caminho. Ou vai, ou fica
Mas se ficar, fique por inteiro, fique de verdade, fique ficando
e quando chorar, que desabe, que derreta, que se afogue
pra que teu sorriso também seja definido, diferenciado
pra que teu sorriso seja sincero, seja cor, seja vida
Ou vive ou morre, ou grita ou fica mudo, ou ajuda ou abandona
Se vive, então viva, nada desse teatrinho de viver por que respira
Para que quando morrer, seja morte, seja choro, seja saudade, seja dor
E quero te dizer que grite
grite o que me machuca, grite o que te cala, grite o que te dói
para que o silêncio seja uma forma de descanso e não de medo de falar
Mas se ajuda, ajude com tudo o que pode, quem sabe até com o que não pode
E se fores abandonar, lembre que abandono pela metade, não existe
e abandono por inteiro seria a maior prova de tua incapacidade de ajudar
Então...
Ou fale a verdade ou minta
meias verdades, assim como meias mentiras, não existem
Ou mude algo ou então não faça nada
se for agir pela metade, fique aí de braços cruzados, não vai fazer diferença
Mais ou menos
Metade
Quem sabe
Talvez
Um pouco
Nada disso me serve, me basta, me sustém
Ou é ou não é, ou quer ou não quer, ou tem ou não tem
O resto, vai ser sempre mais ou menos bom.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Como as flores...

Que sejamos como as flores...
imperceptíveis na maioria do tempo
mas quando utilizadas, sempre para o bem:
Um pedido de desculpa
O arrependimento
A saudade
O desejo
Que sejamos como as flores...
que sem falar nada, diz tudo
e que nossos espinhos jamais encubram nosso perfume
Que sejamos a cor, a alegria, o perdão, o retorno, o alivio, a calma, a luz
Que sejamos o melhor no tempo da primavera
para que no inverno, até quem nunca nos percebeu, sinta saudade do nosso perfume e do nosso poder de pintar o incolor
Que sejamos como as flores...
que servem de inspiração para muitos, que roubam a atenção mesmo sem ninguém as perceber
Até os que não as percebem, não as admiram, vão ao encontro delas
nos momentos em que não conseguem falar, recorrem ao silêncio gritante das flores
Que sejamos o ponto de escape de alguém
O socorro
A ajuda
Que subsistamos a todas estações
Que não odiemos a chuva quando ela for exagerada e nos prejudicar, mas que lembremos dos dias em que ela nos foi um doce regador
Que sejamos como as flores...
Mas flores autênticas
Originais
Flores artificiais não tem espinho, mas também não tem perfume
E que no fim, sejamos dignos de uma frase assim em nossa lápide:
            " Aqui descansa uma flor
              Os anjos sentiram seu perfume e desejaram tê-lo mais perto.
              Por mais que a tenham colhido,
              Seu perfume fará parte de nós eternamente."