sexta-feira, julho 15, 2011

Saudade, falta, lembrança, história

Saudade é estar vazio de si, como se algo que partiu tenha levado junto o que te era importante
Saudade é chorar, gargalhar, tirar fotos antigas do armário, reler cartas e evitar ligar o rádio, por medo de tocar a musica que lhe lembra a tal pessoa, o tal momento, a tal amizade, o tal verão, a tal casa, o tal amor que poderia ter dado certo
Ter saudade é fechar os olhos e chorar, é não dormir, é não sentir fome
Ter saudade é ter desespero, urgência. Vontade de abandonar tudo e correr ao encontro do que te faz ficar assim, com saudade
E pós saudade, a tal falta
E sentir falta, é como se você estivesse se conformando com a ausência
Sentir falta é como permitir que o que passou, não se repita
E não se engane: Sente-se falta também do que nunca aconteceu
Sentir falta é fazer hora extra, tentar dormir mais cedo, marcar dentista em horário de ficar em casa descansando. Sentir falta é fugir
Fugir então, da tal lembrança
Lembrança do olhar intenso do namorado que se foi, de você e seus amigos cantando dentro do onibus escolar, da mãe gritando "O almoço tá pronto gente"
Ter lembranças é observar um casal se beijando, chorar comendo pipoca doce, rir ao encontrar um sapato vermelho que você usou no aniversário de dezesseis anos
Ter lembranças é sentir que tudo te leva ao momento em que a sua saudade está
Ter lembranças é ter uma história, uma tal história
História armazenada mais no coração do que na mente
Por que tenho certeza, cada vez que uma história de saudade for contada, um coração irá querer pular, retroceder, gritar, correr. Como se o presente não lhe pertencesse, e sim a sua história fosse a sua vida
Por que conforme os dias podem ser chamados de meses e os meses de anos, a gente muda
o coração muda, os principios mudam, os sonhos de criança dão lugar a sonhos maduros, o medo das consequencias intensifica-se e a gente se torna gente de verdade... ou de mentira
Vivendo uma vida que não é nossa, conformando-se com a perda de quem a gente afastou, permitindo-se sentir falta de correr na chuva, como se isso não fosse mais possivel.
E no fim da noite vai ter sempre uma pontinha de saudade, fazendo a gente sentir falta enquanto lembra que o que era bom, agora é só história.
E a gente adormece pensando se a saudade que ainda resta é do que passou ou de pedaços nossos que ficaram para trás.