terça-feira, setembro 20, 2011

Não pare de fazer manutenção

Casas abandonadas sempre me fizeram atravessar a rua, ter arrepio e apressar o passo
sempre perco o fôlego ao imaginar a solidão que reina ali dentro
o quanto as paredes devem sentir falta de quadros enfeitando-as
o ranger das portas, a correria nas escadas, a janela aberta pro sol entrar, o varal cheio de roupas.
E paro para pensar no motivo que alguém teve para bani-la de sua vida
por que deixaram-na ali, sozinha... aquilo que um dia foi um lar
por que a condenaram a ser solitária?
Se tantos momentos aquelas paredes contemplaram, se tantos pés pisotearam aquele chão...
Bem, minha agonia multiplica-se ao lembrar que muitas pessoas tornam-se casas abandonadas,
pessoas que podem até pertencer a alguém, mas nada acontece, ninguém as visita, nenhuma janela é aberta, o sol não entra, não há quadros, nem sinal de crianças correndo.
Como se por dívida, vingança, cobrança, desesperança ou até mesmo falta de necessidade, alguém tivesse colocado um cadeado em sua porta e a entregado a solidão
como se algo a tivesse proibido de receber visita, relacionar-se, ser cúmplice de dias bons e ruins
como se algo a tivesse deixado presa, sujeita a enfrentar o vento, a chuva, a ferrugem e a teia de aranha sozinha
até as pessoas começarem a atravessar a rua, ter arrepio e apressar o passo ao avistá-la
ninguém se aproxima, ninguém demonstra interesse, ninguém elogia, ninguém, ninguém, ninguém...
até que um dia percebe-se que a solução é destrui-la e construir de novo.
Faltou perceberem, que só precisava de manutenção...
Adeus abandono.
Adeus solidão.

Um comentário:

  1. É preciso amor para reconstruir aqueles que parecem estar desabitados de carinho, só ele reconstrói as paredes já destruídas, e faz com que a beleza dos sentimentos no interior do coração, transpareça nos sorrisos e olhares.

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